Com a votação do primeiro item da reforma política incluída na pauta do
próximo dia 9, na Câmara dos Deputados, o ex-presidente Lula fez nesta
3ª feira (ontem) uma ponderada e assertiva defesa das mudanças
político-eleitorais. Ao participar do seminário "Novos Desafios da
Sociedade”, promovido pelo jornal Valor Econômico, em São Paulo, o
ex-presidente defendeu o financiamento público exclusivo de campanhas e
foi mais longe: pediu que o financiamento por empresas privadas seja
considerado um “crime inafiançável”.
Pelo que está programado na Câmara, o 1º item a ser votado na reforma
política é o impedimento a parlamentares que trocam de partido de
levarem para a nova legenda o tempo de rádio e TV e o dinheiro do fundo
partidário. Ótimo, vamos intensificar, nós e o PT, a defesa da votação
já do fim do mercado de compra e venda de mandatos ensejado por essa
interpretação.
Vamos acabar com essa distorção criada pelo Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), que autorizou o parlamentar que vai para um partido novo, ou
resultante da fusão de dois ou mais, levar o tempo de rádio e TV e o
dinheiro do fundo partidário para a nova legenda em que ingressa. Isso é
simplesmente um estímulo à infidelidade partidária e a criação de
partidos para negociar tempo de rádio e TV.
Eleição de Lula, um avanço democrático
Além da fala no seminário, ontem, o ex-presidente Lula aborda a reforma
política e toda a conjuntura nacional e internacional também numa
excelente entrevista publicada hoje pelo mesmo jornal Valor Econômico.
No seminário, o ex-presidente afirmou que a democracia no Brasil ainda é
muito recente e considerou sua eleição (em 2002 e 2006) “um avanço”
democrático no país.
No momento em que vivemos, em que deflagraram antecipadamente a campanha
eleitoral de 2014 e vêm com motes já explorados em outras campanhas, o
líder petista lembrou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
perdeu a Prefeitura de São Paulo em 1985 para outro ex-presidente, Jânio
Quadros, que tinha como mote varrer a corrupção da cidade.
Por isso, o ex-presidente Lula disse ser necessário cautela com os
políticos que usam esse discurso. “Todo mundo que usa corrupção como
bandeira de campanha tome cuidado, porque pode ser pior do que ele está
pregando”, advertiu.
Alternância no poder
O ex-presidente defendeu, também, a alternância de poder entre
diferentes grupos políticos e sociais e disse que os governantes não
deveriam gastar tempo criticando antecessores. “Cada político tem que
perceber que mandato é um produto perecível, com data para começar e
acabar. Não tem tempo para ficar discutindo, culpando o governante
anterior. Ou você faz ou não faz”, disse.
O ex-presidente resgatou uma proposta que já defende há algum tempo: se o
Congresso não aprovar a reforma política, a nação deve convocar uma
Assembleia Nacional Constituinte exclusiva para fazê-la. "A gente
deveria não só aprovar o financiamento público de campanha, como tornar
crime inafiançável o financiamento privado", defendeu. Ele lembrou que
em seu tempo no governo propôs a reforma política. E declarou sentir-se à
vontade para defendê-la agora porque o seu partido, o PT, tem "pelo
menos 30%" dos votos em todas as eleições.
Mas, em um ponto de sua palestra, ele mostrou-se cético quanto à
possibilidade de as propostas de reforma em tramitação no Congresso
serem aprovadas. "Não acredito que o Congresso vote a reforma porque as
pessoas que estão lá querem continuar com o status quo que tem hoje."
Uma das questões a serem exaustivamente debatidas: além do financiamento
público, a reforma política defendida pelo PT prevê também a adoção de
lista fechada para votação. Nesse modelo, o partido elabora uma lista de
candidatos e os eleitores votam na legenda.
Ao falar sobre a crise econômica mundial, o ex-presidente Lula defendeu a
necessidade de ação das lideranças no processo para superá-la e, ponto
dos mais importantes em sua exposição, o ex-presidente criticou a
imprensa por tentar "negar a política". Para ele "e um ledo engano, é um
retrocesso sociológico, quando muitas vezes a imprensa tenta negar a
política."
(Foto: Heinrich Aikawa/IL)
Posted Yesterday by Blog Justiceira de Esquerda
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