Um poste para chamar de seu
Enviado por luisnassif, dom, 22/04/2012 - 09:47
Por Oswaldo Alves
Uma presidenta atônita e desesperada em impedir a realização
da CPI de Carlos Cachoeira, Dilma Rousseff amedrontada: foi esta a
charge apresentada no Jornal da Globo esta semana como forma de coroar a
série de reportagens então exibidas a respeito do atual episódio da
política nacional. Qualquer pessoa com um pouco de consciência sabe que
no centro desta investigação encontra-se a figura do senador Demóstenes
Torres, ex-filiado ao DEM, partido de sustentação dos governos tucanos. É
verdade que se encontrarão representantes da base aliada ao governo
Dilma ao longo da investigação, mas a própria razão de ser da CPI tornou
explícito o fato de que os protagonistas deste caso são partidários do
DEM e do PSDB. Praticamente pode-se dizer, por exemplo, que os petistas
suspeitos de alguma ligação com o poderoso esquema criminoso em questão
são peixes menores. Entretanto, além da imagem de uma Dilma afoita,
também foi noticiado um PT com intenções de barrar a CPI.
riosamente, a instauração da CPI contou com a
assinatura da grande maioria dos petistas na câmara e no senado. Não é
novidade esta tentativa de desvio da atenção, este interesse
inconfessável de nossa elite midiática de vincular qualquer caso de
corrupção ao PT e de preservar a imagem dos amigos demo-tucanos (mais os
tucanos do que os demos, é fato). Mas a questão preocupante é que não
estamos diante de uma mera tentativa de desgaste do governo frente à
opinião pública, estamos sim presenciando o fato de que, para satisfazer
esta vontade política, há um verdadeiro dispositivo político capaz de
unir representantes eleitos, órgãos hegemônicos de imprensa, membros do
poder judiciário, chefes de organizações criminosas, ficando totalmente
em segundo plano qualquer noção verdadeira de interesse público.
Ainda assim, do ponto de vista político, o cenário não é dos piores:
talvez seja a primeira vez, desde o episódio do “mensalão”, que o PT,
mesmo ameaçado pelo noticiário, não se encontra acuado e frente à
necessidade de tão somente defender-se, mas sim capaz de assumir uma
posição política mais assertiva e que possa tratar diretamente do
interesse público e da política de modo mais amplo, e não somente
visando garantir a própria sobrevivência do partido. Neste caso, as
tentativas dos representantes midiáticos deste tabuleiro de criar uma
Dilma com medo da CPI demonstre mais o desespero deles do que o dela.
Dilma, pelo contrário, demonstra uma tranquilidade até exagerada em
relação à CPI. Ela tem motivos para se sentir segura, vejamos somente
pelos últimos acontecimentos: colocou a equipe econômica do governo
para atuar frente à questão dos juros e do spread bancário e obteve uma
vitória rápida (isso junto com as vitórias graduais que vem obtendo
frente à confraria da SELIC); na política com P maiúsculo a presidenta
tem se afirmado com êxito (enquanto Obama fez um discurso provinciano de
que os latino-americanos não tem do que reclamar, pois afinal nossos
empresários vendem muitos produtos para o mercado norte-americano e esta
preocupação em afirmar relações igualitárias entre as nações seria uma
relíquia da Guerra Fria, Dilma não se preocupou em ganhar os aplausos
dos empresários presentes e foi direto ao ponto: não é possível haver
uma integração interessante para todos dos continente americano se cada
nação não for tratada como igual. Ela sabe que a despeito do desdém do
presidente norte-americano, esta igualdade não está posta ainda e que os
exemplos disso são a composição do FMI e o direito a assentos
permanentes na ONU, por exemplo); a presidenta tem trabalhado para que a
indústria nacional se recupere, para que a conquista de um novo patamar
na produção científica local não seja apenas um slogan vazio do Ciência
Sem Fronteiras (como querem alguns) e para que a Conferência Rio + 20
possa obter avanços concretos. Tudo isso para dizer que Dilma tem sim
vários ativos políticos para justificar sua segurança. Mas uma
declaração que em português bem claro tivesse desmascarado esta
tentativa de colar a imagem de seu governo ao caso Cachoeira teria sido
bem vinda.
A pretensa elite midiática brasileira criou um super herói chamado
Demóstenes Torres. Como todo super herói, não passava de uma construção
imaginária das mais frágeis. Os mais arrogantes comentaristas vinham a
público para dizer que Demóstenes deveria ser reverenciado por todos,
até por aqueles que discordavam de suas posições. Na falta de coragem e
honestidade para reconhecer que erraram, passaram a procurar psiquiatras
para afirmar que Demóstenes doente mental tinha enganado a todos,
inclusive eles. Um personagem central de um esquema capaz de colocar em
questão a própria vida republicana tornava-se, assim, um caso de escuta
clínica. Felizmente, a verdade é que houve aqueles que não se deixaram
enganar. Acontece que, apesar do erro, a arrogância continua. Mas desta
vez, não se encontram em condições de colocar a máquina midiática para
triturar algum ministro de Dilma, mesmo que inocente. Já o PT, se não
cair na tese fácil do revanchismo do mensalão, terá uma boa chance de se
renovar, ouvindo as vozes críticas internas ao próprio partido, e, de
quebra, protagonizar um papel importante neste momento político do
país. À Dilma, por sua vez, caberá a capacidade de não se colocar como a
ex-ministra que aborda somente assuntos de gestão, mas ser capaz de se
dirigir à nação como a estadista que tem demonstrado ser.
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