A Polícia Federal marcou para o dia 7 de abril o depoimento da
jornalista Mirian Dutra, que teve um relacionamento extraconjugal com o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nos 1990. O depoimento será
realizado em São Paulo.
Mirian Dutra afirma que FHC pagou parte de despesas dela e do filho,
Tomás, no exterior, através de uma empresa que era concessionária do
governo. A Polícia Federal abriu, no dia 26 de fevereiro, inquérito
para apurar as declarações de Mirian.
De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, esta empresa seria a
Brasif S.A. Exportação e Importação. Segundo Mirian, a transferência foi
feita por meio da assinatura de um contrato fictício de trabalho,
celebrado em dezembro de 2002 e com validade até dezembro de 2006.
A Folha afirma que em um documento, aparece como contratante a Eurotrade Ltd., empresa da Brasif com sede nas Ilhas Cayman.Do JB
por Sato do Brasil, especial para os Jornalistas Livres
Nos
meus tempos de ZN, um dia conheci o Centro Cultural São Paulo, na
Vergueiro. Achei o máximo. Aí, conheci o MASP. Foi a glória. Sentei na
frente de um quadro e redesenhei numa folha de papel. Soube pela minha
professora que era de um tal de Van Gogh. Conheci a arte. Atravessei a
ponte e cheguei no centro. Conheci a cidade. Vivenciei a noite e fui
trabalhar num bar. Conheci Itamar Assumpção, Chico Cesar, Gigante
Brasil, Edu Rocha, os irmãos Nardo. Conheci Paulo Freire, Julio Dojcsar,
Silvana Marcondes, Jards Macalé, Jorge Mautner. Um mundo novo. Arte
verdadeira, engajamento politico, pensamento coletivo. Conheci e criamos
a casadalapa. Conheci o movimento estudantil. Me envolvi. Conheci
Orlando Silva, a família Petta. Passei a acreditar que podemos mais. Que
somos atores dessa grande tragédia e comédia humana. Que estamos no
volante de nossos destinos. Conheci Erundina num restaurante da Vila
Mariana, Marina num aeroporto em minha primeira viagem para o exterior.
Conheci Haddad na CasaRodante e Dilma em sua campanha de reeleição.
Faltava um cabra.
Ontem
foi o dia que conheci o Lula. Já tinha visto ele de longe na Paulista
logo depois da aclamação do primeiro presidente operário desse País.
Ouvi seu discurso atentamente. Mas enxergava um ponto perdido em meio a
fumaça, serpentina, confete e carnaval. Ontem, não. Fiquei próximo ao
palco da quadra do Sindicato dos Bancários durante todos os discursos.
Estava exausto. O dia foi cansativo a valer e meu joelho atropelado me
dizia que estava precisando de descanso. Nessa hora, ouvi que ele viria.
Resolvi ficar ali, no meio da multidão e do calor que sempre me enche
de suor e sede.
Chegou
a hora. Como numa plateia dos Beatles, a geral explodiu em êxtase e
desespero. Gritaria, empurra-empurra, pisões em dedos mindinhos,
celulares nas cabeças alheias, lágrimas e barulho. Muito barulho. O dono
da bola pediu silêncio como uma simples anedota de um domingo de festa
familiar. E o silêncio se fez.
Olhei
pra ele, pro cara, pro homem, pro chefe. Mas vi um velhinho, baixinho,
barriguinha saliente, a dor estampada no seu rosto, o cansaço visível.
Um senhor frágil, às portas de um desmaio ou de um tchau de desistência.
Começou a falar. A voz rouca e falha me deixou mais preocupado ainda.
Buda meu, toda aquela força que já vi pelos monitores que passaram pela
minha vida, discursos inflamados, a minha dorsal em completo frisson,
onde estaria? Onde estaria todo o poder do mentor de uma mudança que vi
com meus próprios olhos? O cara que transformou um País? Onde estaria?
Então,
o cabra começou a falar. A voz rouca e frágil foi se repetindo como um
mantra. Uma reza. Oração. E todos com seus espíritos. Falou sobre
indignação e respeito. — É verdade…, comentou baixinho alguém por perto.
Lembrou da sua caminhada, da campanha difamatória da TV Globo na
disputa com Collor. Lembrou do jogo de esconde-esconde do FHC. E veio.
Água mole em pedra dura…
A
voz foi ganhando força ou eu mesmo deixei que a força daquela voz
entrasse em meus ouvidos. E falou das pessoas do andar de baixo, dos
degraus conquistados. Negros, índios, domésticas, a periferia. — O
Nordeste, Lula!, gritou uma senhora ao meu lado. Eu mesmo pude conhecer
nos rincões do Ceará, da Bahia, de Goiás e do Amazonas um brasileiro de
peito aberto, certo de sua história, sua cultura, sua importância. As
conquistas. Um governo pra todos. Lembrou que trabalhador teve aumento
todo ano, aposentado, todo mundo. Também ganhou o banqueiro, ganhou o
empresário. Ah, Lula, banqueiro e empresário? Mas se o governo era pra
ser de todos, todos tinham que ser, ou não?
E
ele falando, falando, pareceu mais magro, mais alto. Seus cabelos
completamente brancos, em vez de velhice, agora me pareciam brancos de
sabedoria e experiência e sua voz cada vez mais forte, mais contundente.
Falou do pobre ocupando shopping, comendo hamburger, frequentando
teatro, cinema. –Aí, mexeu com nós! Outro respondeu. Falou do pobre
chegando no Parque do Ibirapuera, andando de avião. — Avião, avião!
Surgiu num coro. Meus braços já estavam cansados, levantados para
fotografar no celular uma imagem potente. Mas ele continuou falando.
Falou que pobre agora podia escolher onde ir, onde estar. Falou que o
pobre não era um problema, que pobre virou a solução! Nessa hora, não
segurei. Lula, seu fela! Me fez chorar, porra! Eu sabia. Era aquela voz,
aquela oração, aquele mantra.
E
quanto mais eu ficava cansado, mais forte o cabra ficava. E sua voz,
que antes me parecia frágil, agora gritava impávida, sobre histórias
incríveis. Falou alto do desgosto da elite quando o Estado começou a
emprestar cinquenta reais pra pobre comprar arroz, feijão, carne, e
falou do desgosto da elite aumentando vendo esses empréstimos gerando
emprego, arrecadação e investimento. Gritou sobre um país de futebol e
carnaval que elegeu um torneiro mecânico e se tornou independente dos
cofres internacionais, de um governo que criou 22 milhões de empregos,
com aumento real de salário, de um governo que construiu mais
universidades que qualquer outro. Gritou sobre a vontade alheia do seu
fracasso. Gritou sobre suas companhias na jornada, os sem terra, os
sindicatos, a CUT, os catadores de papel, as mulheres. — Não chora, não!
Alguém pede. Mas ele chorou. Humanos choram também. Assim mesmo,
continuou. Berrou sobre um Palácio e seus moradores diários. E que ele
era o outro, e o outro era ele.
Eu
já exaurido, agora sua voz chegava mansa e tranquila. Falou baixinho de
sua ignorância, seu desconhecimento, mas falou também de seu poder de
escutar o que se precisava ouvir. Falou de quem não tinha luz e agora
tem, de quem não tinha onde vender e agora tem, falou de quem não tinha
crédito e agora tem. Cochichou sobre a primeira mulher presidenta do
País. E mais, sobre o preconceito contra as mulheres, uma sociedade
machista e a luta para combater tudo isso. E soprou sobre o absurdo de
um retirante que chegou à Presidência da República e foi considerado “o
cara”.
Quando
tudo chegou ao fim, olhei de novo para o palco e vi um gigante. Um
gigante ferido pela batalha em curso, mas com uma guerra a vencer. Um
guerreiro criado no pau a pique e que junto a seu exército de fortes,
ainda tem muito sangue a jorrar um País governado por todos.
Leia mais: Hoje é dia de que? • A arte da vida. Apon HP http://www.aponarte.com.br/p/hoje-e-dia-de-que-e-amanha_09.html#ixzz1wksZSqx1
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